logo Amazônia ON
Notícia

Cientista político vê onda bolsonarista enfraquecida após condenação

Cientista político vê onda bolsonarista enfraquecida após condenação

"Momento é de rearranjo político", avalia

No movimento agitado das marés políticas, a onda bolsonarista estaria perto de virar espuma. A metáfora é usada pelo cientista político Gabriel Rezende, que caracteriza o fenômeno liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como uma forma de “populismo de direita”.

Segundo Rezende, o Brasil teria vivido quatro ondas populistas, sendo a mais recente — ligada ao bolsonarismo — um movimento em processo de enfraquecimento.

Doutor pela PUC-Rio, o pesquisador lançará em outubro o livro A ascensão do populismo de direita no Brasil (Editora Appris), fruto de sua tese de doutorado. A obra trata o populismo como um fenômeno político que emerge em momentos de crise.

Em entrevista à Agência Brasil, Rezende afirmou que as crises política, econômica e social entre 2013 e 2016 criaram a “tempestade perfeita” para a ascensão do bolsonarismo, marcado por:

  • liderança carismática central;

  • discursos que opõem “povo” e “elite da velha política”;

  • narrativas nacionalistas e religiosas;

  • uso estratégico das redes sociais.

O cientista destaca que a tentativa fracassada de golpe de Estado em 2023 e o papel do Judiciário no enfrentamento de tendências autoritárias colocam esse populismo em “rota decrescente”.


Ondas populistas no Brasil, segundo Rezende

  1. Década de 1930 a 1960 – populismo clássico.

  2. Anos 1990 – populismo neoliberal, com Collor.

  3. Anos 2000 – populismo de esquerda, com Lula e experiências latino-americanas (Chávez, Kirchner, Evo Morales).

  4. 2016 a 2022 – populismo de direita, com Bolsonaro.


Diferenças entre direita e esquerda

  • Direita populista: nacionalismo, religião, conservadorismo moral.

  • Esquerda populista: inclusão social, direitos de minorias, discursos progressistas.


Pilares do bolsonarismo

Rezende lista cinco elementos que sustentaram a ascensão de Bolsonaro:

  1. Lavajatismo (agenda moral contra corrupção).

  2. Apoio evangélico (mobilização de eleitorado religioso).

  3. Agronegócio (forte respaldo político e econômico).

  4. Mídias digitais (estratégia eficaz de comunicação).

  5. Militares (ocupação de cargos e discurso de moralização).


Papel do Judiciário

Rezende aponta que o STF atuou como contrapeso ao bolsonarismo, sendo tratado como “inimigo” por apoiadores do ex-presidente. A tentativa de aprovar a chamada PEC da Blindagem, rejeitada pela sociedade, é vista pelo cientista como sinal do enfraquecimento da pauta moral e de “lei e ordem” da extrema direita.


Futuro do bolsonarismo

Para Rezende, a condenação de Bolsonaro e a restrição a suas falas enfraquecem o movimento. A disputa por sua herança política já se reflete em nomes como Michelle Bolsonaro, Silas Malafaia, os filhos do ex-presidente e Tarcísio de Freitas.

No entanto, ele avalia que o campo da esquerda também enfrenta incertezas sobre a sucessão de Lula:

“O momento é de rearranjo político. Na política, uma semana é um mundo. Podem acontecer mil coisas até a eleição de 2026.”

Fonte: Agência Brasil